domingo, 18 de janeiro de 2009



Se ontem saí do cinema meio frustrado, meio satisfeito, hoje não consigo encontrar motivos para gostar de O curioso caso de Benjamin Button. Fincher, que parecia caminhar para um estilo mais apurado em Zodíaco, torna a repetir seu estilo marcado por maneirismos e excessos.
Era para ser uma fábula sobre a passagem do tempo, com os típicos excessos em efeitos visuais, e seus personagens extraordinários. E, se cada um tem a sua história, Benjamin ali parece o único homem que segue (ou tenta seguir) um curso comum, o menino que terá uma paixão impossível, irá ter o primeiro porre, a primeira visita ao bordel. Não irá passar por nenhuma ocasião fora do comum, ao passo que tal ocasião seja a sua própria vida.
E se fábulas são contadas por pais aos filhos à noite, esta - às vezes penso que talvez não sobre a passagem do tempo, mas sim sobre o fluxo inevitável ao qual estamos submetidos, nascidos sob quaisquer circunstâncias - é contada à mãe, em seu leito de morte, pela sua filha.
E o fim inevitável deste fluxo, a visita constante, a ameaça indissipável é a morte, fim este que se dá de qualquer jeito, seja como um bebê no colo de sua amada, seja pela guerra, por causas naturais, ou por uma tragédia. Tragédia esta que tenta se impor durante todo o filme, através do anúncio constante na TV, mas quase imperceptível.
E durante as quase três horas de projeção, alguns problemas vão tornando o filme enfadonho em alguns momentos. Entre o desaparecimento da personagem de Tilda Swinton e o reencontro do casal protagonista após o acidente, o filme perde fôlego a ponto de se tornar praticamente nulo. E o exagero fincheriano é sentido ora na composição visual (a câmera que insistentemente se coloca contra a luz) ora em recursos narrativos desnecessários (todo o discurso sobre a fatalidade do tempo pré-acidente), ora pela fragmentação da cena em diversos planos que se alternam insistentemente.
E, caindo no óbvio ululante, se algo lembra Forrest Gump, é culpa da estrutura narrativa. Ambos tentam unir a estória do personagem à história norte-americana no século XX, com um romance como elemento central. Culpa de Eric Roth. Vale sempre lembrar que David Fincher em nada se parece com Zemeckis.