terça-feira, 11 de agosto de 2009

No Country For Old Men - alguns apontamentos


Revendo pela segunda vez o filme comecei a notar algumas coisas que havia deixado passar. Como, por exemplo, o quanto a Carla Jean é uma personagem, que de certa forma não se exaspera diante do que está a acontecer. Desde a primeira cena, da chegada do marido com a mala de dinheiro, até o seu encontro com o assassino, ela se mostra uma pessoa resignada.
Outra coisa é como o xerife (a pessoa ligada ao passado) e o assassino (a pessoa ligada ao futuro) nunca se encontram. O xerife está sempre tentando alcançar o assassino, embora esteja sempre muito distante dele. Isso, dentro de toda a simbologia que o filme carrega, faz todo o sentido. Até o momento em que o antigo xerife fala para o personagem de Tommy Lee Jones: "Você não pode impedir o que está vindo. É vaidade". O único elo de ligação entre os dois se materializa no homem comum (Llewelyn Moss).
A última é que a distração que quase mata o assassino são duas crianças andando de bicicleta. Ele se distrai, há ainda uma chance, embora siga o seu caminho. Talvez o filme não seja assim tão pessimista como eu pensava.

City Girl





















































É estranho que um filme com tal nome, pelo menos em sua primeira metade, seja carregado da ingenuidade do garoto do campo. Todo o início do filme é permeado por um certo bucolismo, embora nunca torne a cidade um pólo necessariamente negativo; de acordo com as palavras da protaginsta, os dois são iguais. Mas podemos sentir a diferença - enquanto a cidade é confusão e multidão, as cenas de campo emanam certa serenidade. O velho fazendeiro senta sozinho, em sua casa, e faz as contas do dinheiro irá receber. Intercalada à esta cena, uma imagem da bolsa de valores, a bagunça no salão central, pessoas gritando a esmo, contas intermináveis, oscilações de valor constantes.Há também o confinamento da moça, em seu pequeno apartamento ao lado do trem,no qual podemos encontrar apenas uma pequena planta e um pássaro de brinquedo numa gaiola. A moça para na janela, contemplando um outdoor de um barco no rio. Falta vida na cidade, e sem vida, não há possibilidade para o amor. Ao mesmo tempo, a cidade apresenta-se como forma de enclausuramento, enquanto os vastos campos de trigo (e o próprio outdoor) nos remetem à uma sensação de liberdade. Talvez no campo, haja espaço e tempo para o amor.E, aos poucos, Murnau desconstrói isso, quando os problemas entre o casal começam a surgir, primeiro com a figura do pai, e depois com o trabalhador que se interessa por Kate, ambos agindo por caminhos diferentes na tentativa de destruir o casamento. Murnau mostra então, um campo dominado pelo machismo, pelo patriarcalismo. O apego que Lem sente pela sua família se torna o elemento desencadeador das agruras pelas quais a moça irá passar durante a segunda metade do filme. E o que mais impressiona durante o desenrolar da projeção é a força das expressões e gestos dos atores. Herança de um diretor que se formou pela escola alemã de 20, e se tornou um de seus maiores expoentes.Na cena em que a família de Lem conhece Kate, por exemplo, a felicidade de todos presentes é subitamente interrompida pela chegada do pai, e as expressões mudam em um segundo. E a cena subseqüente consegue ser carregada de uma força emocional maior ainda. A briga de Kate e o velho, a busca de proteção no marido, e o olhar que a mãe dirige ao filho, em busca de compreensão formam um conjunto de imagens poderoso, antológico. O garoto, então, submete-se à vontade do pai em detrimento à justiça ("Eu não posso contrariar o meu próprio pai"). O uso do campo/contracampo, notável, diga-se de passagem, fica a serviço do embate do casal, mostrando que a distância que se estabelece entre eles é resultado dessas duas forças conflitantes - a submissão de Lem ao seu pai e o amor entre eles dois -, e é nesse conflito que a segunda metade do filme se constrói.City Girl é uma obra menor de Murnau, mas não deixa de ser fundamental e uma das mais belas histórias de amor já filmadas.